quinta-feira, 14 de maio de 2009

Castiga o falo que o “Nu Escuro”vem aí!

Olá amigos! Esta crítica foi escrita em novembro durante nossa participação da Mostra de Teatro Rua Lino Rojas em São Paulo. E agora ela foi publicada no lançamento da revista do MTR/SP (Movimento de Teatro de Rua de São Paulo) coordenada por Alexandre Mate, no Encontro de Teatro de Rua de Angra dos Reis. Fiquem aí com as palavras de José Cetra Filho:


O Cabra que matou as cabras – Castiga o falo que o “Nu Escuro”vem aí

Ridendo castigat mores.
(expressão atribuída por Paulo Ronai ao poeta)
Jean de Sauteuil



Manhã de sol em São paulo. O bonito e original cenário em tom bege está naturalmente iluminado pelo astro rei. Enquanto isso os jovens astros reis de Goiânia preparam-se para entrar em cena e iluminar ainda mais a bela manhã. Na platéia, habitantes do Vale do Anhangabaú, pessoal ligado ao teatro e uma humilde mãe carregando o seu bebê. Exageros e licenças poéticas à parte foi realmente muito prazeroso assistir ao simpático, mas não isento de problemas, espetáculo.
O texto é baseado na farsa medieval A farsa do advogado Pathelin, de autor desconhecido, aclimatada com inserções de elementos da cultura popular brasileira, principalmente daquela nordestina. O espetáculo foi concebido em processo colaborativo, mas quem assina a dramaturgia é o diretor Hélio Fróes. O texto é irregular, tornando-se às vezes emaranhado e cansativo. Há várias interferências musicais que vão desde os folguedos populares até Tim Maia e Tom Zé (a música deste num momento particularmente engraçado). Esses apartes musicais em algumas situações tornam o espetáculo tímido, fazendo-o perder o ritmo.
O Nu Escuro nasce em 1996, com integrantes do extinto Castigando Falo. A escolha dos nomes denuncia a irreverência e o bom humor do Grupo. Neste espetáculo atuam 4 integrantes do grupo e uma atriz convidada (Eliana Santos), que está menos à vontade e com menor rendimento em cena, apesar de ter feito chorar o grande incentivador de teatro de rua, de Goiânia, Marcos Amaral Lotufo, com o “pum” da personagem apresentado por ela. Os espetáculos são dirigidos por um dos elementos do grupo, neste caso, Hélio Fróes, que não participa como ator. Os atores usam e abusam do grotesco e do escatológico arrancando gragalhadas da platéia e fazendo-a pensar, confirmando a expressão latina em epígrafe: “Rindo corrige-se os costumes”. Todo o elenco tem bom desempenho, mas cumpre destacar o trabalho primoroso de Abilio Carrascal (o tal do “cabra que matou as cabras”, pivô de toda a trama), com uma brejeirice, um a graça e esgares de olhos dignos dos nossos melhores Oscaritos. Esse é um ator talhado para viver nossos heróis/malandros populares como Macunaíma, Pedro Malasartes, Jeca Tatu e Pe
O cenário, construído a partir de cenários e objetos de cena de outros trabalhos, é um espetáculo à parte: o sol que vira lua, os bonecos que surgem em montanhas íngremes ilustrando as histórias da mulher que virou cabra e do homem que virou bode. Melhor de tudo é a esposa do advogado transando com seu amante (um boneco). Deve ser uam grande diversão assistir ao show que acontece atrás do cenário.
O espetáculo, concebido para a rua, deve render muito bem também num palco italiano tradicional.
E por falar em teatro de rua foram hilárias as reações dos atores e da platéia primeiramente com o caminhão do lixo. Interessados no espetáculo que se apresentava, os coletores pararam para assistir ao espetáculo e esqueceram o caminhão ligado... Como o barulho era grande, uma das atrizes, de grande verve histriônica, manda o caminhão tomar naquele lugar com duas letrinhas... Claro, o público vem abaixo. Um pouco depois aproxima-se o helicóptero do Prefeito, em coro e espontaneamente, vociferam todos: Cai fora, Kassab. Quem pode, pode; quem não pode se sacode!


Por José Cetra Filho, pesquisador de teatro.

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