domingo, 10 de outubro de 2010

Oh Deus, benevolente leitor, cortinas!

Texto retirado do blog:
http://totalmenteseculoxviii.blogspot.com/2010/10/oh-deus-benevolente-leitor-cortinas.html#links
Por Danilo Danilovitsch

Eu estava me sentindo órfão. A Cia. Nu Escuro resolveu, e fez muito bem, sair viajando pelo Brasil a fora e há muito tempo não se apresentava aqui. É triste ser deixado para trás como um sapato velho e sem função alguma. A tudo a gente se acostuma. Porém, ontem eles voltaram! Como explicar essa paixão antiga? Explicando, ora.
Há muitos anos - para ser exato no dia treze de maio de dois mil e cinco - eu assisti a uma peça excelente: O Cabra que Matou as Cabras. Foi a segunda peça a que eu assisti na minha vida, a primeira feita por goianos. E não podia ser melhor.
Desde então assisto a tudo que a Cia. Nu Escuro faz. Tudo mesmo, e pelo menos duas vezes. Em dois mil e seis eles estrearam O Alienista - exatidão é tudo: dia dezesseis de setembro de dois mil e seis. Eu estava presente na estréia. Passados quatro anos e vinte e dois dias eles reapresentaram O Alienista. É claro que eu assisti - pela quinta vez.
Até hoje a Cia. Nu Escuro não conseguiu me decepcionar. A começar pelo fato, que me fez quase chorar de alegria, de começarem o espetáculo com cortina fechada. Eu já conhecia o cenário, logo não foi uma surpresa quando lentamente a cortina se abriu, mas ver uma cortina de teatro é algo de mágico. Lá atrás, eu sei que está acontecendo alguma coisa. E de repente, sem ninguém avisar - além das três sonoras e ensurdecedoras batidas de Molière, que nunca são realmente três, mas incontáveis -, abre-se um novo mundo. Isso já valeria a pena.
Mas eles não ficam contentes com isso. Não, querido leitor, eles resolvem encenar um texto da estatura de um Machado de Assis. Eu amo, idolatro, adoro Machado - arranjem outros verbos e eu os usarei. Eles ficaram contentes? Não. Além disso O Alienista é um espetáculo lindíssimo.
Quando a cortina se abre e estão lá Hélio Fróes, Izabela Nascente e Lázaro Tuim com os figurinos perfeitos de Rô Cerqueira e aquela porta verde, único cenário da peça, mas de uma representatividade inigualável, eu sinto vontade de beijar as mãos de todos. E do fundo da platéia do Goiânia Ouro vêm descendo os músicos.
Aqui teremos um espetáculo à parte: as músicas do espetáculo. Eu reivindico, exijo, cobro publicamente dos nu-escurenses um cd com essas músicas. Desde a primeira vez a que assisti, fiquei apaixonado por todas. Mas devo confessar que Vendetta Castellana e A Salvação do Abridor nunca. Vez por outra em casa, na rua, em qualquer lugar eu me pego cantarolando alguma das duas. E o que dizer de Cristiane Perné cantando as músicas todas do espetáculo? Divina.
As músicas são excelentes, o texto é hilário, o espetáculo é lindo, e a direção do próprio Hélio Fróes é simplesmente genial. Não sei em que consistiu exatamente a supervisão de Hugo Rodas cuja voz faz uma ponta como a Loucura, do Erasmo Desidério, também chamado de Roterdã. Eu sei que certos achados são inesquecíveis.
A Nu Escuro está comemorando quatorze anos de existência lançando um projeto chamado De Dentro do Centro. Eles vão viajar, com cinco espetáculos, por algumas capitais, o que significa que eu ficarei órfão de novo. Não por muito tempo. Na próxima quinta-feira eles apresentam no Goiânia Ouro O Cabra às vinte e uma horas. Quem teve a infelicidade de perder O Alienista não deve cometer a imbecilidade de perder O Cabra. Eu estarei lá - completando a minha décima vez.

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