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Foto Layza Vasconcelos |
Um encontro marcado há sete anos, três donzelas à espera do amor prometido e a visita de uma criatura mística, que provoca mudanças na vida de todos. Inspirado em mitos populares do imaginário latinoamericano, o espetáculo de rua Gato Negro da Cia de Teatro Nu Escuro, estreia no dia 1º de fevereiro (sexta-feira à meia noite), na Praça Universitária, em Goiânia, com o patrocínio do Prêmio ProCultura de Estímulo ao Circo, Dança e Teatro (2010), Prêmio Funarte de Artes na Rua (2011) e Lei Goyazes - Lei Estadual de Incentivo a Cultura.
Dirigida por Hélio Fróes, esta montagem integra a trilogia Goyaz de investigação cênica proposta pela Cia de Teatro Nu Escuro. Gato Negro é a segunda peça da série, que começou com Plural (2012), com direção de Izabela Nascente, e terminará em 2015, com a peça O Iconógrafo, dirigida por Lázaro Tuim.
“O objetivo da pesquisa é olhar de forma crítica e poética para a formação rural do Estado de Goiás”, conta o ator e diretor. Segundo Fróes, a trilogia GOYAZ também tem como proposta fortalecer as linhas de estudos e técnicas do grupo fundamentadas no trabalho de investigação do ator, na música executada ao vivo e no teatro de formas animadas. Todos esses elementos foram trazidos para a concepção do mais novo espetáculo do grupo.
Pesquisa
O fundamento da pesquisa para o Gato Negro remete ao hibridismo cultural da América Latina, onde o barroco assentou-se em definitivo e foi apropriado pelo filho de brancos europeus, de negros africanos, de indígenas nativos, originando o elemento real maravilhoso (também conhecido por fantástico ou realismo mágico), que representa e significa, em essência, o inusitado, o assombroso, o inaudito, o exótico ou aquilo com que se estabelece uma relação radical de alteridade.
É inspirado nesse contexto estético, que Gato Negro foi concebido, trazendo à tona uma gama de emoções provocadas pela espera, tangenciando a frustração, o medo, a angústia, a ilusão. “Os excessos que caracterizam essa linguagem serão sublinhados no espetáculo por um humor negro, mas sempre com um olhar crítico. É o grotesco tratado com seriedade”, explica o diretor.
O contato com o público é facilitado pela inserção da Música, pontuando a encenação do começo ao fim, costurando narrativas ao som de bolero, tango, salsa e outras levadas latinas. “A sonoridade também colabora para a criação da atmosfera coletiva e do estado de cada personagem, que sente medo, tensão, alegria, frustração”, afirma Abílio Carrascal, responsável pela direção musical do espetáculo e composição da trilha sonora original, em parceria com Cristiané Perné e Hélio Fróes.
Para o novo espetáculo, a Nu Escuro experimenta próteses sonoras, equipamentos sonoros especialmente desenvolvidos para as demandas do Gato Negro. A tecnologia portátil permite que o elenco não somente amplifique a voz por meio de microfones, mas que leve consigo, conectado ao corpo, todo o repertório de efeitos sonoros que dão ambiência à cena, operados em tempo real, pelos atores e atrizes.
Dança
Como o Gato Negro não fala, é a expressão corporal que vai permitir o diálogo com os outros personagens. “A Dança é a responsável pela construção das relações”, revela Lázaro Tuim, que encarna o personagem místico e coreografa todo o elenco, juntamente com Luciana Caetano e Juliano Andrade.
Gato Negro integra também técnicas de manipulação de máscaras e bonecos, agregando “encantamento metafísico” à obra. Izabela Nascente, Marcos Lotufo e Marcos Marrom assinam a criação e confecção dos bonecos em cena. A máscara do Gato Preto, produzida em couro, leva a assinatura de Marcos Lotufo. Destaque também para figurinos de Rô Cerqueira, que remete ao ambiente rural do século XX e a cenografia de Wagner Gonçalves, adaptável às peculiaridades do teatro de rua.
Sinopse
Gato Negro narra uma história ocorrida em uma fazenda, no interior de Goiás, no início do século XX. A trama envolve três irmãs que esperam por Samuel Godói dos Santos, que prometeu voltar e se casar com quem seu coração sentisse mais falta. Na data marcada para o retorno, elas o aguardam com festa, mas quem aparece é uma criatura fantástica, meio homem e meio bicho, instalando relações adversas, próprias das Humanidades.
Jaciara (Izabela Nascente) é a irmã mais jovem das três e, com ares adolescentes, sustenta romantismo iludido pela espera, negando a frustração, com base na certeza de que será ela a escolhida de Godoi. Daomé (Eliana Santos) é a filha bastarda, maltratada pela irmã mais velha, protagoniza rompantes de ruptura e de questionamento da hipocrisia social. Matriarca da família, rígida substituta da mãe, Eurásia (Adriana Brito) é quem cede aos encantos da fera, indicando rumos insuspeitos para o final da história, observada de perto e de longe pelo Vaqueiro (Abílio Carrascal) e o Gato Negro (Lázaro Tuim).
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