Uma resenha da estréia do novo espetáculo da Cia de Teatro Nu Escuro
Enfim saiu! Duras semanas de ensaios, muita concentração, dedicação, disposição, e, depois de uma boa gozada,o prazer e a emoção. A experiente Cia de Teatro Nu Escuro estreou seu novo espetáculo, “Preciso Olhar” , direção de Henrique Rodovalho, algo muito esperado pela cena local. Como resultado desse anunciado, uma boa apresentação, que não receberia um excelente ainda pelo fato de ser o inicio de um grande feito e com possibilidades de mudanças nas apresentações que ainda estão por vim.
A mistura de olhares foi o grande marco deste espetáculo e o resultado foi a miscelânea de linguagens em torno de um foco: identidade. Rodovalho como convidado especial atendeu as expectativas e soube dirigir tecnicamente e conceitualmente essa grande obra. No entanto, confesso que me deu um friozinho na barriga em ver esse resultado de olhares se edificando. Fui um dos pouco que teve a oportunidade de ver antecipadamente o processo em construção e nos ensaio gerais pude perceber que a obra ainda não tinha terminado. Não conseguia ainda perceber seu estilo – se é que é preciso definir algo; um drama, uma comédia, teatro contemporâneo, dança-teatro, não sei, mas algo que pudesse nos instigar a saber o que poderia sair em um encontro interessante de boas cabeças.
Nas apresentações a surpresa; um espécie de drama- comédia. Não nega-se a dosagem cômica da peça, não sei se intencional, mas a resposta do público foi de muitos risos e boas gargalhadas, um resultado comum para a Cia. De inicio até achei alguns textos longos e dispersos, no entanto, se tornou útil para quebrar essa toada cômica do espetáculo.O Drama, fica por conta dos textos dos “eus”, onde os atores puderam dar o melhor de si, digo literalmente, pois a peça simplesmente dá o olhar intimo de cada ator ou cada personagem nesse caso.
As atuações, um grande desafio; interpretar –se como personagem, uma grande lição para a trupe, pois falar de nos mesmos não é fácil. Nisso todos fizeram bem seus “próprios” papeis. Tuim, com surpreendentes movimentos teve uma atuação destacada; Adriana, em seus dasabafos emotivos sempre bem gestuosos, uma experiente atriz; Hélio Fróes, um cara objetivo e com personalidade; enfim, minha amiga Izabela Nascente, adoravelmente apaixonada, onde pude sentir emoção e verdade, dosada claro de certa tensão e até descontração, mas ao falar de si explorou as coisas que tem paixão, sua família, suas marcas e suas loucuras, foi muito bem obrigado.
Mas a peça não é só um divã oportuno para os atores e o diretor, ela pronuncia sobre nossa cidade, nosso espaço cotidiano, que por acaso é de quase todos que assistiram o espetáculo na estréia. Não foi mais um grupo ou artista falando de Goiânia e Goiás, típico bairrismo muito valorizada pela goianidade de plantão, mas o tom cômico e até irônico nos instigou a ter mais vontade de saber mais sobre nossa identidade e nossas coisas, algo que alguém de fora não se incomodaria pela sutileza que foi dada.
A composição cênica com intervenções áudio-visuais misturada com a definição objetiva da luz, recheada com boa atuação e direção, não resta dúvida que merece atenção da critica teatral, dos fazedores e apreciadores dessa arte. Vale a pena a ver e conhecer esse olhar, nossa digital artística e filosófica...
Intés.
Bruno Garajau Dantas – Historiador, ativista cultural. Um goiano; apreciador da arte teatral
Nenhum comentário:
Postar um comentário