terça-feira, 7 de abril de 2009

Digital do território do eu

Uma resenha da estréia do novo espetáculo da Cia de Teatro Nu Escuro

Enfim saiu! Duras semanas de ensaios, muita concentração, dedicação, disposição, e, depois de uma boa gozada,o prazer e a emoção. A experiente Cia de Teatro Nu Escuro estreou seu novo espetáculo, “Preciso Olhar” , direção de Henrique Rodovalho, algo muito esperado pela cena local. Como resultado desse anunciado, uma boa apresentação, que não receberia um excelente ainda pelo fato de ser o inicio de um grande feito e com possibilidades de mudanças nas apresentações que ainda estão por vim.

A mistura de olhares foi o grande marco deste espetáculo e o resultado foi a miscelânea de linguagens em torno de um foco: identidade. Rodovalho como convidado especial atendeu as expectativas e soube dirigir tecnicamente e conceitualmente essa grande obra. No entanto, confesso que me deu um friozinho na barriga em ver esse resultado de olhares se edificando. Fui um dos pouco que teve a oportunidade de ver antecipadamente o processo em construção e nos ensaio gerais pude perceber que a obra ainda não tinha terminado. Não conseguia ainda perceber seu estilo – se é que é preciso definir algo; um drama, uma comédia, teatro contemporâneo, dança-teatro, não sei, mas algo que pudesse nos instigar a saber o que poderia sair em um encontro interessante de boas cabeças.

Nas apresentações a surpresa; um espécie de drama- comédia. Não nega-se a dosagem cômica da peça, não sei se intencional, mas a resposta do público foi de muitos risos e boas gargalhadas, um resultado comum para a Cia. De inicio até achei alguns textos longos e dispersos, no entanto, se tornou útil para quebrar essa toada cômica do espetáculo.O Drama, fica por conta dos textos dos “eus”, onde os atores puderam dar o melhor de si, digo literalmente, pois a peça simplesmente dá o olhar intimo de cada ator ou cada personagem nesse caso.

As atuações, um grande desafio; interpretar –se como personagem, uma grande lição para a trupe, pois falar de nos mesmos não é fácil. Nisso todos fizeram bem seus “próprios” papeis. Tuim, com surpreendentes movimentos teve uma atuação destacada; Adriana, em seus dasabafos emotivos sempre bem gestuosos, uma experiente atriz; Hélio Fróes, um cara objetivo e com personalidade; enfim, minha amiga Izabela Nascente, adoravelmente apaixonada, onde pude sentir emoção e verdade, dosada claro de certa tensão e até descontração, mas ao falar de si explorou as coisas que tem paixão, sua família, suas marcas e suas loucuras, foi muito bem obrigado.

Mas a peça não é só um divã oportuno para os atores e o diretor, ela pronuncia sobre nossa cidade, nosso espaço cotidiano, que por acaso é de quase todos que assistiram o espetáculo na estréia. Não foi mais um grupo ou artista falando de Goiânia e Goiás, típico bairrismo muito valorizada pela goianidade de plantão, mas o tom cômico e até irônico nos instigou a ter mais vontade de saber mais sobre nossa identidade e nossas coisas, algo que alguém de fora não se incomodaria pela sutileza que foi dada.

A composição cênica com intervenções áudio-visuais misturada com a definição objetiva da luz, recheada com boa atuação e direção, não resta dúvida que merece atenção da critica teatral, dos fazedores e apreciadores dessa arte. Vale a pena a ver e conhecer esse olhar, nossa digital artística e filosófica...
Intés.

Bruno Garajau Dantas – Historiador, ativista cultural. Um goiano; apreciador da arte teatral

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