A Cia. de Teatro Nu Escuro surgiu como núcleo de teatro na ex-ETFG na década de 1990. Apesar de Henrique Rodovalho ter sido professor na instituição, o convite para direção de uma montagem foi feito uma década depois.
A mais nova criação é algo inédito para o repertório da companhia. A começar pela direção que é assinada pelo renomado coreógrafo Rodovalho, da Quasar. Além de inexistir no palco personagens e, sim, personalidades.
Ao adentrar a sala de espetáculo, o público reconhece o estilo rodovalhiano de configurar um palco clean. Ele exercita a mescla do audiovisual e artes cênicas, junto com Michael Valim, criando uma instalação em vídeo com imagens de partes dos corpos dos atores, mas não desdobra o suporte e segue exibindo vídeos ao longo do espetáculo.
O público não deve esperar ver dança, dança-teatro ou qualquer outra variação das linguagens. Preciso Olhar é classificável como um bom exemplo de peça de teatro, embora a contemporaneidade mostre que rotular é perigoso, afinal, a proposta da Nu Escuro é apenas bater um papo franco e direto (ou quase uma “lavação de roupa suja”).
Fica ligeiramente incômodo ouvir confissões vindas de Adriana Brito, Hélio Fróes, Izabela Nascente e Lázaro Tuim, nomes próprios no palco e fora dele. Antes de abordar o indivíduo, a Cia. faz um recorte do conceito de ser humano (e goiano) e o localiza geograficamente na cartografia abdominal de Tuim.
Para quem se acostumou a “morrer de rir” nos espetáculos da companhia, vai ter que se contentar a se divertir com doses homeopáticas de bom humor, mas que ainda estão rigorosamente dentro do padrão de qualidade da Nu Escuro. As piadas estão entranhadas na apropriação dos discursos jornalístico, publicitário, teatral etc. dos inúmeros esquetes que os atores encenam para se desafiarem e questionarem a linguagem do teatro. Impagável o Rap da Enfezada. Isso tem que ser publicado no YouTube.
O cenário, embora tenha uma carga de informação necessária à montagem, parece ter tido problema de execução e não compôs harmonicamente o conjunto da obra, inclusive dificultou a visualização das projeções. Letycia Rossi criou um figurino que foi além da identidade e expressou intimidade. Preciso Olhar é espetáculo que a gente “precisa ver” de novo, para olhar mais atentamente o ser humano que se desnuda e mostra tudo aquilo que julga pertencer a sua identidade.
Rafael Ventuna
Especial para o DMRevista
Diario da Manha
01 de abril de 2009
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