O Cabra em Angra
Foto de Edmar (Irmãos Brodhers)
Diretamente do Estado de Goiás, e passando por outros encontros e festivais, a Cia. de Teatro Nu Escuro escolheu, como texto a conferir um ponto de partida ao espetáculo, o “clássico” A farsa do Mestre Pierre Pathelin, de autor anônimo francês do século XIV/XV.
Decorrente do espetáculo anterior, apresentado relativamente perto da Praça da Matriz, novamente lotada, o espetáculo teve de sofrer um atraso para que o público que assistiu ao espetáculo da Cia. da Lua tivesse tempo de chegar ao espaço em que seria apresentado O Cabra que matou as cabras. Assim, mas não pelo atraso ocorrido para iniciar a apresentação do espetáculo, tendo em vista tratar-se de uma proposta da direção, os atores-personagens passeiam por entre o público. Um desses atores, o tal Cabra, passa com uma garrafa de – imagino – aguardente, talvez para deixar o “miolo mais mole” da platéia. Afinal, ele será julgado, logo mais, em uma cena de julgamento.
Opção do jovem diretor – Hélio Fróes, e o afinadíssimo grupo demonstra domínio da cena, das relações de troca com a plateia –, os atores não usam microfone, e são absolutamente ouvidos pela grande platéia presente ao espetáculo. Trata-se do espetáculo mais escatológico de todos a se apresentar na 14ª edição do Encontro Nacional de Teatro de Teatro de Rua. Desse modo, como já havia mencionado antes o conceito, talvez agora, e brevemente, fosse importante apresentar alguns indicadores conceituais do termo.
Parte significativa dos termos e conceitos utilizados em teatro foi cunhada pelos gregos da Antiguidade clássica e transposta aos que vieram... Hoje, o conceito de escatologia refere-se, sobretudo, a comportamento mal educado, deselegante, não civilizado, decorrente de skatoslogos: referindo-se a doutrina que disserta sobre as fezes. Tendo uma pequena variação gráfica eskhatoslogos, o conceito refere-se a doutrina final do tempo.
O conceito aqui utilizado refere-se, portanto, à primeira conotação. As personagens da montagem do grupo de Goiânia são personagens, fazendo uma alusão ao filme de
Ettore Scola, além de sexualizadas: feias, sujas e malvadas.
Diferentemente de A lenda da Bica da Carioca, neste espetáculo, e não apenas pelo texto original, o ponto de vista da encenação corresponde, como se espera de um espetáculo popular, não é o do comerciante ou do advogado, mas ao do empregado. O ator que apresenta esta personagem (o Cabra) é excelente. Tem domínio de seu fazer e do modo como lida com a platéia. De modo semelhante, precisam, também, ser destacadas as atrizes que fazem o advogado e sua mulher.
Parabéns a todo o grupo e ao seu belo trabalho. Foi uma excelente finalização de segundo dia de jornada.
Por Alexandre Mate
Pesquisador e professor do Instituto de Artes da Unesp de São Paulo. Integrante, com justo júbilo, do Núcleo Nacional de Pesquisadores de Teatro de Rua.
Leia a Crítica completa do Encontro de Teatro de Rua de Angra dos Reis no blog:
teatroderuanobrasil.blogspot.com
Um comentário:
tão podendo hein
parabéns ao grupo
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